Bairro de Alfama e Rio Tejo em Lisboa

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O alfaiate valente (Irmãos Grimm)

Ilustração de Raquel Santos


 O alfaiate valente é um conto dos Irmãos Grimm.

Há muito, muito tempo, um alegre alfaiate de quem todos gostavam, porque era muito bom e generoso, ainda que as pessoas não o levassem muito a sério, porque era um grande gabarolas e tinha o hábito de exagerar quando contava as suas aventuras. Um certo dia, o alfaiate estava a coser, muito contente porque lhe tinham oferecido um bolo, que ia comer quando acabasse o que estava a fazer, mas o cheiro do bolo atraiu várias moscas que se puseram a voar à sua volta.
O alfaiate tentou enxotá-las com um pedaço de tecido, mas os insectos só se afastavam por alguns segundos, voltando de imediato a pousar em cima do bolo. Por fim, o rapaz fartou-se e, com um terrível golpe, matou as sete moscas de uma só vez. Como era um bocadinho gabarolas, o alfaiate bordou num cinto a palavra «MATASETE», com letras bem grandes, e pô-lo.
Foi para a rua e a todas as pessoas com quem se cruzava dizia:
- Matei sete! Matei sete de uma vez!
As pessoas olhavam e sorriam, porque todos sabiam que era um bom rapaz, apesar de ser um pouco gabarolas. Alguns até lhe deram os parabéns, e o alfaiate acabou por acreditar de tal forma que decidiu ir por todo o mundo, pois o ofício de alfaiate não era para um valente como ele.
E foi assim que o alfaiate saiu da cidade e entrou no bosque, decidido a viver grandes aventuras.Quando se estava a preparar para comer um bocado de queijo, apareceu um gigante, que para o assustar partiu uma rocha com as próprias mãos.
Mas o alfaiate, que era um rapaz muito valente, não se assustou e disse ao gigante: 
- Pensas que podes assustar o famoso MATAsete com esses disparates?
- Disparates? – rugiu o gigante, furioso.
- Achas um disparate partir uma rocha com as mãos? Porque é que não tentas tu, pequenote?
O alfaiate, que além de valente era muito esperto, fingiu que tinha apanhado uma pedra do chão e mostrou ao gigante o bocado de queijo que ia comer; depois, com cara de quem estava a fazer muita força, esmagou-o.
- O que é que achas? Com uma só mão! – disse ao gigante, mostrando-lhe o bocado de queijo esborrachado.
Então o gigante, furioso mas impressionado, arrancou uma grande árvore pela raiz e disse:
- Vamos ver se me consegues ajudar a levar lenha para casa.
- Claro que sim! – respondeu o alfaiate. – Vai tu à frente, que sabes o caminho, e eu vou atrás. O gigante pôs o grande tronco às costas, e o alfaiate, fingindo que o estava a ajudar, agarrou-se a um ramo.
Chegaram a uma caverna onde vivia o gigante com outros gigantes como ele. Ofereceram-lhe uma enorme cama, e o alfaiate fingiu que se ia deitar. Mas de seguida escondeu-se debaixo desta, e foi graças a isso que salvou a sua vida, pois o gigante bateu com uma moca no sítio onde pensava que o alfaiate estava a dormir.
A cama rangeu com a terrível pancada, e por um momento o alfaiate pensou que se ia partir e o ia esmagar, mas felizmente resistiu. Como estava às escuras e tinha ouvido um ruído que lhe parecia de ossos a partir, o gigante pensou que tinha acabado com o alfaiate e foi dormir.
No dia seguinte, o rapaz saiu do seu esconderijo e foi procurar o gigante e os seus amigos. Ao vê-lo são e salvo, os gigantes pensaram que era um ser invencível e ficaram assustados.
A extraordinária proeza do rapaz com os gigantes começou a correr de boca em boca e chegou aos ouvidos de um rei. Este mandou chamar o alfaiate e disse-lhe:
- No meu reino há dois gigantes que fazem todo o tipo de maldades e aterrorizam os meus súbditos. Se conseguires ver-te livre deles, nomear-te-ei meu herdeiro e dar-te-ei metade das minhas riquezas.
- Não vos preocupeis, majestade – disse o alfaiate -, os gigantes são a minha especialidade. Dizei-me onde posso encontrá-los e não vos tornarão a incomodar.
Com as indicações que o rei lhe deu, o rapaz não tardou a encontrar os gigantes que dormiam debaixo de uma árvore.
O alfaiate subiu à árvore e de lá de cima atirou uma pedra a um dos gigantes que, ao pensar que tinha sido o seu companheiro, deu-lhe uma violenta pancada.
O outro gigante acordou e bateu-lhe em resposta à pedrada, e assim, pancada após pancada, os dois gigantes acabaram por se envolver num combate mortal. Arrancaram árvores para usar como mocas, atiraram um contra o outro pedras tão grandes que conseguiam destruir uma casa, gritaram, deram pontapés… e no fim acabaram por morrer os dois.
Então o alfaiate desceu da árvore e foi chamar os soldados do rei, que não podiam acreditar no que os seus olhos viam.
E, tal como tinha prometido, o rei nomeou o rapaz seu herdeiro e encheu-o de honras e riquezas.Assim, graças à sua astúcia, o alfaiate valente transformou-se em príncipe.




2 comentários:

Anónimo disse...

Eu gosto muito da historia. Mais, cómo e que se disse "moca" no Espanhol??? Busquei-lo no dicionário, e disse que ei "chaval". Mais não tem sentido na historia. Andrea Martin Bernardo

Pedro L. Cuadrado disse...

Olá, Andrea! Leste o conto todo? Ficaria muito contente se o tivesses feito.

Repara: a palavra não é moça (com c cedilhado) sinónimo de rapariga, garota, mas moca. O dicionário diz que moca é " Cacete que serve de arma. = CLAVA, MAÇA". Em espanhol diríamos "porra".

Passa um bom domingo!